Brasil desperdiça 18 milhões de litros de sangue ao ano por puro preconceito. Se Matt Bomer, Kevin Spacey, Mario de Andrade, Marco Nan...
Brasil desperdiça 18 milhões de litros de sangue ao ano por puro preconceito.
Se Matt Bomer, Kevin Spacey, Mario de Andrade, Marco Nanini ou Elton John fossem doar sangue em um hemocentro brasileiro, eles seriam barrados pelo mesmo motivo: manter relações sexuais com homens.
No Brasil, homens homossexuais só podem fazer doação sanguínea se passarem um ano sem transar com outro homem.
A restrição representa um desfalque considerável nos estoques de sangue.
Em 2014, apenas 1,8% da população brasileira doou 3,7 milhões de bolsas. É bastante sangue, mas é pouca gente - ideal da ONU é que 3 a 5% da população de uma nação seja doadora. Mas só conseguiríamos chegar nesse ideal de 3% se o número de brasileiros que vão regularmente aos hemocentros dobrasse.
Ainda é pouco.
E tem muita gente que quer engordar essa pequena parcela de voluntários. De acordo com o IBGE, 101 milhões de homens vivem no país e, do total, 10,5 milhões é homo ou bissexual.
Levando em consideração que cada homem pode doar até quatro vezes em um ano, com a restrição dessa parcela da população, são desperdiçados 18,9 milhões de litros de sangue por ano.
Para o Ministério da Saúde, os 12 meses de abstinência sexual fazem parte de um conjunto de regras sanitárias para proteger quem vai receber a transfusão de possíveis infecções - até 2004, homens que fazem sexo com homens (HSH) eram proibidos de doar sangue.
A Portaria nº 2712, de 12 de novembro de 2013, segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde(OMS) e da Organização Pan-Americana de Saúde(OPAS) sobre a restrição de HSH, de que todas as amostras de sangue sejam analisadas e de que os doadores sejam de baixo risco.
O Ministério e a Anvisa afirmam que orientação sexual não deve ser usada como critério para seleção de doadores e que as regras não são discriminatórias. Mas a realidade dos hemocentros não é bem assim.
Em 2014, o tio do jornalista João Teixeira estava internado na UTI do Hospital 9 de julho, em São Paulo, e a família foi procurada para doar sangue. João, doador frequente desde os 17 anos, foi o único barrado no momento da entrevista. Ao responder que mantinha relações sexuais com homens, a médica disse que o sangue não seria aceito pelo fato dele ser gay.
Perplexo, ele explicou que estava em um relacionamento sério há mais de um ano e que sempre usava preservativos. A resposta foi estarrecedora. "Você é uma exceção entre os gays, a maioria é promíscua e se você estivesse doente, também não ia querer um sangue ruim". Desde então, João nunca mais doou sangue.
O designer Alexandre Macedo, de 42 anos, foi outro que passou por uma situação parecida. ele tentou doar sangue a pedido do Hospital Doutor Arthur Ribeiro de Saboya, no bairro paulistano Jabaquara, em retribuição aos cuidados que sua mãe recebera enquanto estivera na UTI.
Alexandre, que estava em um relacionamento monogâmico há mais de 10 anos, ouviu que não estava qualificado por ser gay e não poder doar. "Sou um ótimo candidato: tenho peso, altura, boa saúde, não tenho tatuagens, piercings, fui cobaia de testes do PREP (medicamento de profilaxia pré-exposição ao HIV) há 5 anos no Hospital das Clínicas, sou doador universal. É muito decepcionante saber que estou apto e que por uma regra que leva em consideração quem você transa, não poder mais ", afirma. Alexandre também nunca mais doou sangue.
Ao contrário de João Alexandre, Vinícius De Vita, de 22 anos, estava solteiro quando foi ao banco de sangue. O estudante foi impedido de doar com a justificativa de que teve relações sexuais com mais de três parceiros no último ano. Ele estava acompanhado de uma amiga e um amigo, ambos solteiros e heterossexuais, que também tiveram mais de três parceiros nos 12 meses anteriores à doação.
Os dois puderam doar, Vinícius não. "Entendo a questão da janela imunológica e acredito que não se pode ignorar que temos riscos maiores para várias DTSs. Mas não é apenas proibindo a doação que se resolve o problema. Falei que era gay e me olharam com desconfiança, me senti mal, mega estigmatizado". Desde então, Vinícius foi mais um que nunca mais doou sangue.
O número de novos casos de aids no Brasil se mantém estável nos últimos 10 anos - são 20,5 casos para cada 100 mil habitantes. A cada ano, o país registra 40,6 mil novos casos da doença. De 1980 a junho de 2015, 65% dos infectados eram homens e 35%, mulheres. De acordo com o boletim Epidemiológico de HIV, apenas 0,4% da população brasileira é portadora do vírus.
Os dois puderam doar, Vinícius não. "Entendo a questão da janela imunológica e acredito que não se pode ignorar que temos riscos maiores para várias DTSs. Mas não é apenas proibindo a doação que se resolve o problema. Falei que era gay e me olharam com desconfiança, me senti mal, mega estigmatizado". Desde então, Vinícius foi mais um que nunca mais doou sangue.
O número de novos casos de aids no Brasil se mantém estável nos últimos 10 anos - são 20,5 casos para cada 100 mil habitantes. A cada ano, o país registra 40,6 mil novos casos da doença. De 1980 a junho de 2015, 65% dos infectados eram homens e 35%, mulheres. De acordo com o boletim Epidemiológico de HIV, apenas 0,4% da população brasileira é portadora do vírus.
No entanto, entre homens que transam com homens, a prevalência do vírus é de 10,5%. Para a OMS, o risco de HSH serem contaminados é 19,3 vezes maior que homens que não transam com homens. A Anvisa afirma que faltam estudos sobre práticas sexuais seguras entre homens, como uso de camisinhas e relações monogâmicas, e que isso dificulta a avaliação dos possíveis doadores.
Sendo assim, o Ministério da Saúde considera que os candidatos à doação que admitirem transar com homens são "temporariamente inaptos", porque têm mais chances de terem uma doença infecciosa e de seus exames apresentarem resultados negativos, mesmo sendo portadores de algum vírus.
Abaixo você pode conferir onde homossexuais podem doar sangue e onde os homossexuais tem que ficar até 12 meses sem manter relações sexuais.
via Super Interessante
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